“Em sua Filosofia da Caixa Preta, o pensador Vilem Flüsser afirmava que o “analfabetismo fotográfico está levando ao analfabetismo textual”. Em outros termos, o “bastar-apertar-o-botão” - levado ao extremo pela tecnologia digital, mais a overdose de imagens que nos assola – voláteis, redundantes, lidas em ritmo de video-clip, desestimulam o exercício da linguagem. Uma pitada de lógica de mercado e uma “imagem vale por mil palavras. E assim, cada vez é mais penoso e raro o ato de ler, e, portanto, o de imaginar a partir das palavras, responsáveis, em grande parte, pela formação desse património pessoal e intransferível que chamamos “imaginário”. Fábrica de sonhos e invenções, cinema interior, refugio indevassável.
A segunda frase impensável no tempo em que viveu Matsuo Bashô, poeta-maior japonês, re-inventor do haikai: poesia em grau máximo de concisão, buraco negro pelo avesso, princípio e Verbo. Assim um sertanejo inventou o galope beira-mar, que derrama seus 10 versos em 11 sílabas, os japoneses criaram essa forma minimalista de poema, com três versos de 5, 7 e 5 sílabas. Em pleno século XVII, Bashô detonava, a cada haikai, um big-bang de imágens. E não as menosprezava: era desenhista e pintor, numa cultura visualmente refinada.
Logo, dezassete sílabas podem valer mil imagens. E nem toda a foto vale mil palavras.(...)” JUAREZ CAVALCANTI (Lido em: Celso Oliveira, Quem Somos Nós, Editora Tempo d'imagem, Fortaleza, 2007)
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