“O VIOLINISTA”
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“O violinista é aquele fenómeno tipicamente humano refinado até um potencial raro – meio tigre meio poeta. É a encarnação de uma agilidade animal muito específica ao serviço de uma transfiguração humana invulgar. Compete-lhe falar da memória, do sentimento ou do pensamento humanos; torna palpável o intangível, exprimindo-o através do som e do ritmo. Em meu entender, deve possuir um dom inerente ao poeta de atravessar a camada protectora que reveste os propagandistas, os corretores e os negociantes de escravos e penetrar na verdade mais profunda do seu âmago.
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É perdoável e compreensível o móbil do tigre, cuja característica ferocidade não depende de uma opção. Todavia, quando esta ferocidade se torna um vício e uma obsessão no homem, reveste a forma de uma opção deliberada. Não basta ser de algum modo privilegiado por factores hereditários, nascimento e meio envolvente e dizer «foi por isso que me tornei violinista»; o verdadeiro violinista, tal como o alpinista ou o astronauta, na minha perspectiva, em grande medida, faz-se.”
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YEHUDI MENUHIN
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(Yehudi Menuhin, “A Lição do Mestre – Pensamentos, Exercícios e Reflexões de um Violinista Itinerante” – Gradiva, Lisboa, 1991 [1986])
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(A foto impressa no cartaz nao é de minha autoria. A foto com o cartaz sim. Dentro de 4 dias acaba esta edicao do Hollands Dance Festival em Haia. Já deixa saudades)
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